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O que é arte? O conceito e o limite do bom senso What is art? The definition and limit of good sense

  • Foto do escritor: Giovanni Paolo Ruffini
    Giovanni Paolo Ruffini
  • 27 de jan. de 2018
  • 11 min de leitura

Gostou do texto? Quer citar este artigo? Use a seguinte referência:

RUFFINI, G.P. O que é arte? O conceito e o limite do bom senso. Revista de Ciências Brasileiras, v. 1, p. 10-17, 2018.

Resumo

A arte surgiu juntamente com os primórdios da humanidade, e revelou-se já em suas primeiras ações uma condição necessária para a sobrevivência desta. Cada sociedade apresenta variados estilos de fazer arte, pois cada uma apresenta seus próprios valores, sejam eles: morais, religiosos e artísticos. Diante do exposto, este estudo teve como objetivo investigar bibliograficamente os aspectos referenciais e sociais acerca do conceito de arte, além de investigar sua aplicabilidade junto à sociedade brasileira, tendo como referência aspectos históricos e contextualizados. A partir das informações coletadas, concluiu-se que seria leviano delimitar a um único reles conceito algo tão magnifico e amplo como a exploração da criatividade expressadas nas manifestações artísticas. Cada sociedade é independente para apresentar variadas formas de fazer arte, pois cada uma apresenta seus próprios valores, sejam eles morais, religiosos e artísticos, cada região tem sua cultura, com a arte se manifestando de acordo com estas. Todavia, não é porque o artista ou o crítico tem conhecimento de causa que ele esteja certo, ou que aquilo que ele está tentando passar, seja de fato arte. A arte mesmo que ampla, possui bases, conceitos e preceitos que devem ser respeitados culturalmente. E quando houver modificações destes, devem visar o seu aperfeiçoamento ou transpô-los para uma nova geração a partir de uma base teórica pré-estabelecida a fim de enriquecer a identidade cultural de uma nação.

Palavras-chave: conceito, identidade cultural, manifestações artísticas, sociedades.


Abstract

The art born together with the beginnings of humanity, and immediately became a necessary condition for the survival of this. Each society presents varied styles of making art, because each presents its own values moral, religious and artistic. According of the above, this study aimed to investigate bibliographically the referential and social aspects about the definition of art, besides investigating its applicability in Brazilian society, taking as reference historical and contextualized aspects. From collected informations, it was concluded that would be wrong to restrict in a single definition something so magnificent and broad as the exploration of imagination expressed in artistic manifestations. Each society is independent to present several forms of making art, since each one presents its own features. However, it's not because the artist or critic has technical knowledge that he's right, or that is showing art. The definition art, however broad, has basis, concepts and precepts that must be respected culturally. And when there are modifications of these, should aim at improvement or transpose them to a new generation from a pre-established theoretical basis in order to enrich the cultural identity of a nation.

Keywords: artistic expressions, cultural identity, definition, societies.


Introdução

A arte surgiu juntamente com os primórdios da humanidade, e revelou-se já em suas primeiras ações uma condição necessária para a sobrevivência desta. Neste sentido, não é equivocado afirmar que as pinturas rupestres caracterizavam essa primeira forma de expressão, demonstrando que o homem da caverna, já naquele tempo, interessava-se em se comunicar de maneira diferente (FISCHER, 1983).

Quando o homem faz arte, ele cria um objeto artístico que não precisa ser uma representação fiel das coisas no mundo natural ou vivido e sim, como as coisas podem ser, de acordo com a sua visão, ou seu desejo. Baseado nisto, a função da arte e o seu valor estão na representação simbólica do ser humano (FERREIRA & OLIVEIRA, 2018).

Cada sociedade apresenta variados estilos de fazer arte, pois cada uma apresenta seus próprios valores, sejam eles: morais, religiosos e/ou artísticos. Cada uma possui sua cultura, e a arte se manifesta de acordo com esta (AZEVEDO JÚNIOR, 2007).

No Brasil, principalmente a partir dos anos 90 e estendendo-se pelos anos 2000, sempre houve muito descaso com a valorização das artes brasileiras, destacando-se o fato de nunca haver nacionalmente historiadores da arte que estruturassem o cenário intelectual e definissem as suas linhas de força, como, por exemplo, Henri Focillon, na França, Roberto Longhi, na Itália, Julius von Schlosser, na Áustria, Erwin Panofsky e Edgar Wind, na Alemanha, Roger Fry, na Inglaterra, etc. Naturalmente, existem alguns nomes de referência, mas se trata em geral de escritores, ensaístas e jornalistas que eventualmente se dedicaram, para o bem ou para o mal, à história da arte e tentar criar uma identidade cultural genuinamente brasileira. Prova deste descaso, é que no meio acadêmico, por exemplo, até os anos 1980, a história da arte entendida como conhecimento metódico e como disciplina universitária associada a diplomas de graduação, mestrado e doutorado simplesmente não existia no Brasil. Ainda hoje, aliás, os cursos de história da arte são bem pouco numerosos (MARQUES et al, 2014).

Sendo assim, este estudo teve como objetivo investigar bibliograficamente os aspectos referenciais e sociais acerca do conceito de arte, além de investigar sua aplicabilidade junto à sociedade brasileira, tendo como referência aspectos históricos e contextualizados.


O polêmico conceito de arte

Partindo deste princípio, a arte existe para decorar o mundo, para ajudar no dia-a-dia (utilitária), para explicar e descrever a história, para expressar ideias, desejos e sentimentos, a arte é uma manifestação singular (FERREIRA & OLIVEIRA, 2018).

Segundo Azevedo Júnior (2007), para que a arte exista, é necessário a existência de três elementos: o artista, o observador e a obra de arte. O artista é aquele que tem o conhecimento concreto, abstrato e individual sobre determinado assunto que se estressa e transmite esse conhecimento através de um objeto artístico (pintura, escultura, dentre outros) que represente suas ideias. O segundo, o observador, é aquele que faz parte do público que observa a obra para chegar ao caminho de mundo que ela contém, ainda terá

que ter algum conhecimento de história e história da arte para poder entender o contexto de tal arte. O terceiro, a obra de arte, é a criação do objeto artístico que vai até o entendimento do observador, pois todas as artes têm um fim em si, ou seja, uma tradução.

Conceitualmente, o termo “arte” remete a, ao menos, dois conceitos básicos: um é mais restrito, pois trata da arte como “obra de arte”, circunscrita na história da arte, feita por artistas e na maioria das vezes localizada em instituições artísticas; o outro é mais amplo, pois concebe a arte como o conjunto de atos criadores ou inovadores presentes em qualquer cultura humana. Chamaremos o primeiro conceito de “restrito” porque ele emerge em um contexto histórico-social mais delimitado espacialmente e temporalmente (FERREIRA, 2014), onde podemos contextualizar e definir estas épocas, locais, culturas e outras classificações.

O segundo conceito chamaremos de “amplo”, porque tem a mesma escala de conceitos primordiais, como humanidade, história, sociedade ou cultura. É evidente que, a rigor, poderíamos apontar muitos conceitos de arte; propomos esses dois como uma divisão mais básica, a partir da qual outras concepções poderiam ser especificadas (FERREIRA, 2014).

Segundo os preceitos de Kosuth, cada obra é a fotocópia da definição dicionarizada de uma palavra: ‘arte’, ‘ideia’, ‘significado’, ‘nada’; ampliada e impressa ao inverso, branco no preto” (ARCHER, 2008). Ora, para este artista, a arte não era as fotocópias concretas, mas as ideias que elas representavam: “as palavras da definição proviam a informação artística” (ARCHER, 2008; AGUIAR & BASTOS, 2013).

E ao pensar o jogo recíproco entre realidade, ideia e representação, Kosuth afirma que uma obra de arte é uma tautologia na medida em que é uma apresentação da intenção do artista, isto é, que aquela obra de arte particular é uma manifestação artística, significando assim que ela é uma definição de arte a sua maneira (ARCHER, 2008; AGUIAR & BASTOS, 2013).

Todavia, para que se chegue a este conceito tão abstrato, deve-se possuir uma base sólida de conhecimento dos conceitos e preceitos da arte, o que ela representa e como aquela obra pode se encaixar no contexto artístico no qual o artista está inserido, voltando-se assim para uma máxima: não é porque o conceito é amplo e permissível, que se pode “abusar da boa vontade” e sair falando e fazendo qualquer coisa e denominá-la de arte.

Apesar da ideia expressada anteriormente ter deixado uma lacuna muito aberta quanto a aplicação do conceito de arte, ela refere-se a liberdade de utilizar a vocação artística do profissional de arte (espontânea ou técnica) e utilizar de toda sua criatividade para expandir sua visão de mundo para o mundo dentro de um contexto permissível à sociedade, palatável ao público e que represente real contribuição ao movimento artístico ao qual pertence (regional, local, nacional ou internacional).

E por definição, atualmente podemos dividir a arte em 11 categorias (originalmente concentravam-se até a 7ª), nas quais listamos (MARTIN, 1971; BATTEUX, 2009; FIGURELLI, 2013):

· 1ª Arte – Música: manifestação sonora ritmada;

· 2ª Arte – Dança/Coreografia: movimentos coordenados;

· 3ª Arte – Pintura: uso e harmonia das cores;

· 4ª Arte – Escultura: representações plásticas e uso de modelagem;

· 5ª Arte – Teatro: interpretação;

· 6ª Arte – Literatura: uso da palavra descritiva;

· 7ª Arte – Cinema: captura, edição e reprodução de movimentos em sequência;

· 8ª Arte – Fotografia: captura de movimentos em imagem;

· 9ª Arte – História em quadrinhos: sequência de quadros, formando imagens e quase sempre balões de falas, que contam uma história;

· 10ª Arte – Jogos Eletrônicos: integra os elementos das outras artes, como a música para trilha sonora, artes cênicas para dublagem e captura de movimentos, pintura e escultura para o design, e literatura para roteiros, todos em ambiente virtual.

· 11ª Arte – Arte digital: arte gráfica ou intervenções artísticas realizadas exclusivamente por intermédio de computadores e/ou plataformas digitais.

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Obra "Os Operários" (1933) da artista Tarsila do Amaral. Exemplo de arte genuinamente brasileira.


Arte e o limite do bom senso

Dentre um dos possíveis conceitos, a “arte” pode ser definida como uma experiência humana de conhecimento estético que transmite e expressa ideias e emoções”, por isso, para a apreciação da arte é necessário aprender a observar, a analisar, a refletir, a criticar e a emitir opiniões fundamentadas sobre gostos, estilos, materiais e modos diferentes de fazer arte (AZEVEDO JÚNIOR, 2007).

Em outras palavras, no auto de uma ignorância sistêmica sobre o assunto ali descrito naquela representação artística, o apreciador da arte deve ser capaz de não apenas visualizar a representação artística ali apresentada, mas também deve analisar e estar a par de todo o contexto ali presente naquela manifestação, para, posteriormente, poder emitir um parecer plausível.

Além disso, o artista deve ser capaz de retratar em sua obra algo plausível de entendimento, seja ele popular, ou técnico. Aqui dividimos a manifestação artística em dois pontos: a espontânea e a técnica.

A manifestação artística espontânea é aquela onde, inevitavelmente, há uma clara e manifesta expressão de talento natural, onde o autor muitas vezes pode não ter estudo ou base teórica bem fundamentada, todavia, apresenta uma vocação natural para a realização de uma determinada atividade artística que expresse os seus pensamentos, ou a sua visão de mundo. No Brasil, temos inúmeros casos, dentre os quais destacam-se principalmente cantores, músicos instrumentistas, pintores, escultores, atores dentre outros, que, através de uma vocação natural, materializa ou expressa algo sem uma clara ou evidente vontade de explicar o que esteja tentando passar ali.

Aqui podemos começar a traçar um paradigma com o chamado bom senso. Não é porque o conceito de arte é amplo e permissível que se pode abusar e chamar qualquer coisa de arte. Muitas vezes, principalmente por força de influência de veículos formadores de opinião que tentam ludibriar a população leiga, há as denominadas distorções artísticas, onde pessoas claramente sem talento algum para tal atividade que estejam exercendo, são utilizados como figuras públicas representantes de meios artísticos pobres de vocação. Nestes casos, é mais fácil verificar talentos natos em artistas de rua, parcela esta riquíssima em talento, porém longe de ter o seu trabalho valorizado ou divulgado, do que nesse meio pobre de cultura, talento e vocação.

Hoje, e talvez a mais de 30 anos, é comum verificar na grande mídia brasileira inúmeros exemplos de artistas claramente sem talento algum para exercer tais funções que estejam lá repassando a imagem. Todavia, estes por inúmeros motivos (um destes a já comentada em outros trabalhos pobre educação brasileira e a ocultação de memórias culturais boas na mente da maioria) representam um falso sucesso. Digo falso, pois estes pseudo artistas acabam por fazer algum ato passageiro, que com toda certeza não deixa nenhuma memória relevante na cultura brasileira, e se não estiverem no seleto grupo de “sem talentos preferiti” da grande mídia, acabam por sumir completamente desta.

Estas palavras, por mais pesadas e revestidas de acidez que sejam, são a mais pura realidade do que se verifica atualmente nesta geração digital. Vide o exemplo mais clássico que verificamos, onde os verdadeiros artistas espontâneos de épocas passadas, sejam estas 20, 30, 40, e por vai, anos atrás, continuam a ter sua obra aclamada pela ampla maioria da população e pela crítica especializada, seja a manifestação artística que for.

O outro lado da moeda, é a manifestação artística técnica, onde artistas, revestidos e embebedados de conceitos, conhecimento técnico-científico e uma postura totalmente crítica, realizam manifestações propositais a fim de atingir um objetivo, ou seja, aqui há uma clara tendência para o direcionamento do que é desejado atingir.

Elencamos aqui o pessoal profissional, acadêmicos, críticos de arte e todo o corpo técnico e culto do meio artístico. Todavia, assim como na outra manifestação, deve-se traçar o paradigma com o chamado bom senso.

Não é porque o artista ou o crítico tem conhecimento de causa que ele esteja certo, ou que aquilo que ele está tentando passar, seja mesmo arte. É comum no Brasil atual nos depararmos com estes pseudo intelectuais que tentam formar nossas opiniões, difundindo material e situações bizarras a seu bel prazer. Neste caso, ao invés de construir uma identidade cultural no público, estas pessoas simplesmente estão quebrando e jogando no lixo o conceito de arte, além de utilizar estas manifestações avessas para outras finalidades, principalmente para causas políticas sem fundamento.

A arte técnica deve visar a modificação de conceitos para melhor. Deve tentar aperfeiçoar ou transpor para uma nova geração conceitos passados de uma forma atualizada, ou mesmo criar um novo conceito a partir de outros já estabelecidos, ou seja, fazer algo original e que ajude a enriquecer a identidade cultural de uma nação, vide as classificações artísticas que temos na literatura brasileira, por exemplo, onde cada momento histórico é bem delineado e possui sua própria forma de pensamento a partir de um conceito bem definido, e tem sua obra amplamente difundida até os dias atuais.

Porém, novamente levantando a questão dos pseudo artistas, estes ganharam tanto espaço, principalmente na grande mídia, que a mais de 30 anos (talvez mais, talvez menos), o Brasil não tenha produzido uma época artística dourada na sua literatura, ou na escultura, ou na pintura (a música eu nem irei comentar pois é uma discussão ampla demais para um parágrafo), e vê a cada dia manifestações pseudo artísticas cada vez mais sem a completa noção do bom senso, principalmente em prol de passar uma mensagem idiota, infundamentada, inerente, sem cultura e porque não dizer, sem conhecimento do que é arte de verdade.


Conclusões

A partir das informações coletadas, concluiu-se que seria uma atitude leviana a tentativa de limitar a um único reles conceito algo tão magnifico e amplo como a exploração da criatividade expressada nas manifestações artísticas. Cada sociedade é independente para apresentar variadas formas de fazer arte.

Todavia, não é porque o artista ou o crítico tem conhecimento de causa que ele esteja certo, ou que aquilo que ele está tentando passar, de fato, seja arte. A arte mesmo que ampla, possui bases, conceitos e preceitos que devem ser respeitados culturalmente.

E quando houver modificações nestes, devem visar o seu aperfeiçoamento ou transpô-los para uma nova geração a partir de uma base teórica pré-estabelecida, a fim de enriquecer a identidade cultural de uma nação.


Referências

ARCHER, M. Arte contemporânea: uma história concisa. São Paulo: Cortez, 2008.

AGUIAR, J.V.; BASTOS, N. Arte como conceito e como imagem. Tempo Social: Revista de Sociologia da USP, v. 25, n. 2, p. 181-203, 2013.

AZEVEDO JUNIOR, J.G. Apostila de Arte – Artes Visuais. São Luís: Imagética Comunicação e Design, 2007. 59p.

BATTEUX, C. As belas-artes reduzidas a um mesmo princípio. Trad.: Natalia Maruyama. SãoPaulo: Humanítas/lmprensa Oficial, 2009.

FERREIRA, D.P. Investigações acerca do conceito de arte. Tese (Doutorado em Filosofia), Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minais Gerais, Brasil, 2014. 319p.

FERREIRA, I.S.O.; OLIVEIRA, L.F. ARTE: Conceito, Origem e Função, 2018. Disponível em: https://goo.gl/S9j1KM. Acesso em: 25 jan. 2018.

FIGURELLI, R.C. Cinema, a sétima arte. Extensio, v. 10, n. 15, p. 1807-1822, 2013.

FISCHER, E. A Necessidade da Arte. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.

MARTIN, M. A linguagem cinematográfica. Trad.: Vasco Granja e Lauro Antônio. Lisboa: Prelo, 1971.

MARQUES, L.; MATTOS, C.; ZIELINSKY, M.; CONDURU, R. Existe uma arte brasileira?. Perspective, v. 2, 1-19, 2013.


Autor: Giovanni Paolo Ruffini (Cidadão ítalo-brasileiro, Professor de História, Filosofia e Sociologia)

 
 
 

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