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Marie Curie: um verdadeiro símbolo da força feminina Marie Curie: a true symbol of feminine force

  • Foto do escritor: Giovanni Paolo Ruffini
    Giovanni Paolo Ruffini
  • 12 de mar. de 2018
  • 14 min de leitura

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RUFFINI, G.P. Marie Curie: um verdadeiro símbolo da força feminina. Revista de Ciências Brasileiras, v. 1, p. 32-42, 2018.

Resumo

Realizou-se este estudo com o objetivo de investigar bibliograficamente a importância da cientista Marie Curie como um símbolo da atuação das mulheres para o desenvolvimento da sociedade contemporânea. A partir das informações coletadas, concluiu-se que Marie Curie foi um grande símbolo da força feminina no desenvolvimento da humanidade, pois além de toda a sua obra, em muitos momentos abriu mão de acomodar-se e preferiu continuar incessantemente seus estudos em busca de prestar sempre sua contribuição à sociedade. Quando se analisa o desenvolvimento a obra de Marie Curie, desde seus cadernos de laboratório até toda a importância de sua obra, levando em conta também o contexto da época, verifica-se que seu trabalho experimental não foi guiado apenas por uma mera busca empírica de novos elementos radioativos, mas sim por uma série de hipóteses derivadas de estudos preliminares, principalmente de Becherel. E mesmo que por muito tempo tenha desenvolvido estudos na companhia de Pierre, construiu uma grande carreira sólida na ciência, ganhando o respeito e admiração de todos pela sua inteligência, autonomia e trabalhos espetaculares em diversos ramos da ciência, inclusive criando métodos didáticos inovadores à época e quebrando barreiras culturais no meio universitário.

Palavras-chave: ciência, mulheres cientistas, radioatividade, universidade.


Abstract

This study aimed to investigate the importance of the scientist Marie Curie as a symbol of women performance for the development of contemporary society. From collected informations, it was concluded that Marie Curie was a great symbol of the feminine force in the development of humanity, mainly because her work and unceasing desire to continue her studies aiming contributions to society. When analyzing the development of Marie Curie's work, from her lab books at the importance of her work, it is verified that her experimental work was not guided only by a mere empirical search of new radioactive elements, but by a series of hypotheses derived from preliminary studies, mainly from Becherel. And even if for a long time she has studied in Pierre's company, she has built a solid career in science, winning the respect and admiration of all for her intelligence, autonomy and spectacular work in several areas of science, also creating innovative teaching methods for her time and breaking cultural barriers in the university environment.

Keywords: science, radioactivity, university, women scientists.


Introdução

O movimento feminista, em sua essência, possui dentre suas inúmeras características, positivas ou negativas, particularidades que podem ser levadas em consideração pelos interessados em entender sua contextualidade na sociedade, principalmente relacionadas as reflexões críticas (PINTO, 2010), muitas vezes equivocadas é bem verdade, e a idolatria deste por questões e simbologias que apresentam situações com perda total de nexo em detrimento de aspectos que, de fato, deveriam ser pautas reais na defesa e simbologia do papel das mulheres na sociedade contemporânea.

É fato que pode-se conhecer o movimento feminista a partir de duas vertentes: a história do feminismo, ou seja, da ação do movimento feminista, e da produção teórica feminista nas áreas da História, Ciências Sociais, Crítica Literária e Psicanálise (PINTO, 2010). Todavia, jamais deve-se associar este movimento como uma representatividade divina do papel da mulher na sociedade. Há diversos exemplos históricos muito mais significativos que contextualizam a representatividade da mulher na formação da sociedade contemporânea que um mero movimento que “à força” tenta obter destaque na grande mídia das massas.

A partir destas constatações, tanto o movimento feminista, quanto a sua teoria, apresentam situações que provocam debates ideológicos no campo das Ciências Humanas, muitas vezes havendo uma omissão de informações em prol de uma pauta que favorece apenas um público específico, especialmente quando interliga-se o movimento de apoio aos direitos das mulheres a pautas políticas totalmente sem sentido para o desenvolvimento de tal finalidade, principalmente interligas a grupos políticos comunistas, socialistas, progressistas e democratas.

Diversos símbolos históricos que representam o real papel das mulheres no desenvolvimento da sociedade contemporânea a muitos anos tem sido ocultados e, porque não dizer, substituídos por figuras históricas produzidas em prol de alimentar constantemente a idolatria e o prosseguimento da pauta dos grupos políticos citados anteriormente.

Diante do exposto, realizou-se este estudo com o objetivo de investigar bibliograficamente a importância da cientista Marie Curie como um símbolo da atuação das mulheres para o desenvolvimento da sociedade contemporânea.


De Varsóvia à Paris: primeiros passos (WEILL, 2007; WYART, 2007)

Marie Curie nasceu em 7 de setembro de 1867, na cidade de Varsóvia, na Polônia, sendo a filha caçula da família Sklodowska. Seu nome de batismo era Maria Sklodovska, sobrenome herdado de seu pai, professor de Matemática e Física, que se tornou diretor de uma escola anos mais tarde. Sua mãe, também professora, somente teve participação em sua educação até os 11 anos de idade, quando então faleceu vítima de tuberculose.

Nascida em um lar em que a ciência era o centro da família, Marie Curie sempre se interessou pelo conhecimento, nutrindo desde cedo o desejo de seguir à carreira acadêmica. E através do apoio familiar, principalmente de seu pai, terminou seus estudos básicos aos 15 anos de idade.

Em 1885, com apenas 18 anos, exercera a profissão de professora particular para filhos de famílias ricas na Polônia. O país naquele momento encontrava-se dominado pelo Império Russo, que não permitia de forma alguma o acesso das mulheres à educação formal. Porém, com a ajuda de sua irmã, Marie por diversas vezes montou grupos de estudos clandestinos para poder estudar e promover o conhecimento para outras pessoas, chegando a lecionar numa universidade ilegal (desafiando as políticas da época), frequentada principalmente por mulheres proibidas de seguirem seus cursos regularmente.

Diante das dificuldades locais e o desejo de continuar seus estudos, em 1891, aos 24 anos, Marie seguiu sua irmã mais velha, Bronislawa, para estudar em Paris, ingressando no curso de licenciatura em Física da Faculté de Sciences da Universidade de Sourbonne, concluindo o curso em 1893. Em 1894, Marie também conclui o curso de Matemática.

Durante sua busca por um tema e por um orientador para seu doutorado, Marie conheceu o professor de Física Pierre Curie, com quem acabou casando-se em 1895, passando, então, a ser chamada de Marie Sklodowska Curie, ou simplesmente, Marie Curie. Os dois tiveram duas filhas, Éve e Irène.

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Retrato da Família Curie: Pierre, Irène e Marie Curie.


Becquerel e os Primeiros Trabalhos

(CURIE & CURIE, 1989; CURIE, 1903; MARTINS, 1990; MARTINS, 1997)

Em 1896, o cientista Antoine Henri Becquerel incentivou o casal Curie a estudar as radiações por ele descobertas, emitidas pelos sais de urânio. Marie engravidou naquele mesmo ano de 1896, dando à luz a sua primeira filha, nomeada de Irène, em setembro de 1897. Devido a este acontecimento, é somente em dezembro de 97 que Marie começa seus trabalhos de doutoramento na École supérieure de physique et de chimie industrielles de la ville de Paris, tendo por tema os raios do uranilo, descobertos por Becquerel.

Estes eram até então chamados de raios urânicos, por se acreditar que eram específicos deste elemento, ou, como Marie os chamava, raios de Becquerel. Pode agora parecer curioso, mas o objetivo inicial de Marie, em sua tese, era apenas o de realizar medidas de alta precisão neste fenômeno recém descoberto. Os experimentos iniciais, dos quais resultou à descoberta dos raios X e da radioatividade, se baseavam na sensibilização de chapas fotográficas, sendo a intensidade do efeito avaliada pela intensidade do enegrecimento da chapa fotográfica, e, portanto, um método qualitativo.

Marie, por sua vez, foi pioneira por introduzir métodos quantitativos no estudo os raios de Becquerel. Para medir a intensidade destes raios, o procedimento introduzido por Marie consistia no seguinte: era um fato que os raios de Becquerel ionizavam o ar, isto é, o tornava condutor de corrente elétrica, podendo a corrente gerada ser medida em um galvanômetro. Esta corrente podia igualmente ser neutralizada por uma tensão elétrica, gerada por um cristal piezoelétrico, quando pressionado (o efeito que Pierre descobrira anos antes).

Assim, o valor da pressão, que permitia neutralizar a corrente elétrica, era uma medida da intensidade dos raios de Becquerel. Por tratar-se de um cristal de quartzo, este dispositivo ficou conhecido como balança de quartzo piezo elétrica ou simplesmente balança de quartzo.

Entrando pelo ano de 1898, Marie não dá sossego a todos os que lhe possam conseguir amostras de metais, minérios, enfim qualquer substância que também pudessem possuir a propriedade de emitir raios de Becquerel, usando, para isso, sua balança piezoelétrica. A partir disto, Marie descobre, então, raios de Becquerel no Tório, elemento de número atômico 90 na tabela periódica, dando-lhe o nome genérico de radioatividade ao fenômeno da emissão.

Como provara que o fenômeno da emissão espontânea não era exclusividade do Urânio, Marie vislumbra, então, pela primeira vez, que a radioatividade era um fenômeno proveniente do átomo de certas substâncias “privilegiadas”. Nesta ocasião, Marie mede também a radioatividade de minérios de pechblenda e calcolita e fica confusa, pois a atividade encontrada nestes era muito superior ao estimado nas análises do Urânio e do Tório. Ela faz então a conjectura de que haveria, nestes minerais, ao menos um elemento químico então desconhecido, e muito mais ativo que o Urânio ou Tório. No dia 12 de abril, Marie comunica à Academia de Ciências, através de seu ex-professor Gabriel Lippmann, a atividade “anormal” da pechblenda e da calcolita afirmando que “esse fato é muito marcante e leva a crer que esses minerais podem conter um elemento muito mais radioativo do que o Urânio”.

Pierre, percebendo que sua esposa estava diante de uma descoberta potencialmente “grande”, abandona seus trabalhos em magnetismo juntando-se a esposa no estudo da radioatividade.

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Pesquisas laboratoriais: Becquerel (esquerda), Pierre Curie (centro) e Marie Curie (direita).

Dificuldades de percurso (CURIE & CURIE, 1989; CURIE, 1903)

Na busca pelo título de doutoramento em física, o título era obtido pela defesa direta de tese já que não existiam cursos de pós-graduação naquela época, vale ressaltar que Marie Curie até então não pertencia à nenhuma instituição científica. Seu marido, Pierre, era professor de uma escola de engenharia, a École Municipale de Physique et de Chimie Industrielles, de Paris.

O diretor da escola, Charles Schützenberger, autorizou Marie a utilizar um canto de uma sala que servia de casa de máquinas e depósito para o desenvolvimento de seus estudos. E apesar desta ser uma sala úmida e fria, foi o único local disponível para seu trabalho.

Costuma-se descrever a pesquisa inicial de Marie Curie como uma busca sistemática por outros elementos, além do urânio, que fossem capazes de emitir radiações semelhantes (WEILL, 1970).

A própria Marie escreveu, em 1899: “após os trabalhos do Sr. Becquerel, era natural perguntar-se se o urânio é o único metal que desfruta de propriedades tão particulares. O Sr. Schmidt estudou sob esse ponto de vista um grande número de elementos e de seus compostos; ele encontrou que os compostos do tório são os únicos dotados de uma propriedade semelhante. Fiz um estudo do mesmo tipo, examinando compostos de quase todos os corpos simples atualmente conhecidos [...]; cheguei ao mesmo resultado que o Sr. Schmidt” (CURIE, 1899).

Essa versão, que se apoia também no texto do primeiro artigo publicado por Marie, não parece corresponder à realidade histórica. De um modo geral, é preciso analisar cum grano salis as versões apresentadas pelos próprios cientistas em seus trabalhos publicados, e nesse caso em particular dispomos de documentos que nos permitem desvendar o caminho seguido por Marie Curie no início de suas pesquisas.

A grande descoberta

(CURIE & CURIE, 1989; CURIE, 1903; MARTINS, 1997)

Após receberem uma tonelada de pechblenda (o óxido de urânio), que lhes fora ofertada pelo governo austríaco, o casal Curie inicia seu exaustivo processo de separação dos diversos componentes da pechblenda, medindo a atividade de cada um deles. Em 13 de junho de 1898, Marie anota em sua caderneta que medira uma atividade de 150 vezes a do urânio, em um precipitado, estando em 18 de julho seguros para anunciar a grande descoberta.

No Comptes Rendus de julho de 1898, o casal Curie anuncia a descoberta de um novo elemento químico. Este é um metal, emissor espontâneo dos raios de Becquerel, ou, para usar o termo por eles cunhado: um elemento radioativo. Este viria a ocupar o lugar de número atômico 84 da tabela periódica e seria batizado, por Marie, de Polônio, pois mesmo tendo obtido a cidadania francesa, Marie jamais esqueceu de sua terra natal.

Outrora, após re-análise dos dados, os pesquisadores ficaram convencidos de que haveria na pechblenda um segundo elemento, este sim o responsável dominante pela atividade do minério. O polônio, embora tivesse radioatividade alta, tinha uma vida muito curta o que tornava a possibilidade de isolá-lo, remota.

Em setembro anunciariam a evidência do outro elemento radioativo, presente na pechblenda. Isolariam o segundo elemento, também radioativo, e que viria a ser o elemento 88 da tabela: o Rádio. A comunicação à Academia se daria em dezembro, assinada por Pierre Curie, Marie Curie, e pelo químico Georges Bémont. Eles haviam isolado 0,1 g de rádio a partir de 1 tonelada (1.000.000 g) da pechblenda. Sua amostra inicial era 7.500 vezes mais ativa que o minério original.

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Clássica foto de Marie e Pierre Curie durante as primeiras análises laboratoriais de radioatividade.

Nobel e reconhecimento

(BADASH, 1965; DAVIS, 1995; MARTINS, 1997)

A partir de suas inúmeras descobertas, em 5 de novembro de 1903, Marie e Pierre recebem a medalha Humphry Davy, da Royal Society of London, e em 12 de dezembro dividem com Becquerel o Prêmio Nobel de Física. O prêmio estava em sua terceira edição e descrevia: Ao casal Curie, “Em reconhecimento aos extraordinários serviços prestados por eles em suas pesquisas conjuntas sobre o fenômeno da radiação descoberto pelo Professor Henri Becquerel”. A Becquerel, "Em reconhecimento aos extraordinários serviços que ele prestou através de sua descoberta da radioatividade espontânea”.

Com o reconhecimento viria também o assédio decorrente da fama, que os Curie sempre considerariam um infortúnio, obstruindo sua disponibilidade para dar continuidade aos seus trabalhos.

A partir de suas descobertas e êxitos, Marie conseguiu que seu marido se tornasse chefe do Laboratório de Física da Universidade de Sorbonne. Em 1903, doutorou-se em Ciências pela mesma Universidade, e em 1904 tornou-se assistente laboratorial de Pierre, podendo assim dar continuidade aos seus estudos em radioatividade

Neste período, o industriário francês Armet d’Isle iniciou a instalação do primeiro complexo industrial voltado para a extração do rádio, a partir da pechblenda. Na percepção de Armet, o rádio era a matéria-prima de muitas aplicações industriais e médicas futuras. André Debierne, que fora colaborador de Marie em seus estudos, prestou assessoria ao industriário para instalação do complexo.

Mesmo diante deste contexto, os Curie recusaram-se a receber qualquer royalty ou patentear o processo de extração do rádio, renunciando à fortuna que isso lhes teria trazido, e permitindo a investigação das propriedades desse elemento por toda a comunidade científica.

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Certificado atestando o Prêmio Nobel de Física concedido a Pierre Curie e Marie Curie.


Tragédia e ascensão acadêmica

(JAUNCEY, 1946; BADASH, 1965; DAVIS, 1995; MARTINS, 1997)

No dia 19 de abril de 1906, ao sair de um almoço na Associação de Professores da Faculdade de Ciências, Pierre caminhava pela Rue Dauphine, a caminho da Faculdade, debaixo de intensa chuva, quando foi atropelado por uma carroça puxada por dois cavalos. Após debater-se entre os cavalos, Pierre caiu e a roda traseira da carroça lhe acertou diretamente o crânio. Aos 46 anos, o famoso cientista francês Pierre Curie foi declarado morto por acidente rodoviário após laudo da polícia local.

Em meio à comoção e ao luto pela viúva mais famosa da França, Marie recusou a oferta de pensão vitalícia que o Ministério da Educação da França lhe oferecera, solicitando apenas a oportunidade de trabalhar na Universidade e continuar seus estudos.

Neste sentido, no ano de 1906, o Conselho da Universidade de Sorbonne em Paris decide, por unanimidade, manter a cátedra de Física Geral criada para Pierre, em 1904, ofertando-a à Marie. Em novembro ela assume a referida cátedra, sendo a primeira mulher a ocupar uma posição acadêmica naquela instituição.

Em 1910, Marie publica seu primeiro tratado sobre radioatividade. Nele admite, sem reservas, a teoria da transmutação como base para a explicação da radioatividade. Antes, Pierre e Marie tinham recebido com reservas as ideias de Rutherford, acreditando que a radioatividade era uma propriedade de átomos “privilegiados” que mantinham sua “integridade” no processo.

Em 1906, Marie é incumbida, por ocasião do Congresso de Radiologia, em Bruxelas, de produzir um padrão para o rádio, necessário tanto para pesquisa quanto para uso terápico. A ampola contendo 20 mg de rádio metálico deveria ser depositada na Agência Internacional de Pesos e Medidas, em Paris. Neste mesmo congresso se introduziu o Curie (Ci), em homenagem a Pierre, como unidade de radioatividade.

Em 1911, Marie Curie foi agraciada com outro prêmio, desta vez o Nobel de Química, por suas importantes pesquisas no descobrimento de novos elementos químicos como o polônio e o rádio, tornando-se a primeira pessoa, até então, a ganhar duas vezes o Prêmio Nobel.

No ano de 1914, Marie participou da fundação do recém-criado Institut du Radium da Université de Paris, sendo nomeada para a direção do mesmo. Todavia, com a eclosão da Grande Guerra (que só seria chamada Primeira Guerra Mundial após a segunda), o instituto teria sua atuação adiada, pois Marie se juntaria a Cruz Vermelha, assumindo a direção do Serviço Radiológico.

Marie atuou especialmente equipando ambulâncias com aparelhos de raios-x portáteis, realizando treinamento intensivo de enfermeiros e médicos, com Irène sendo assistente, e atuando no diagnóstico dos feridos.

Com o fim da Guerra, em 1918, Marie finalmente assumiu suas funções a frente do Institut du Radium. Quando viaja com as filhas aos Estados Unidos, em 1921, é presenteada com 1 g de rádio, obtido a partir de uma campanha de uma jornalista, que lhe foi entregue pelo Presidente Harding, pessoalmente.

Em 1922, Marie é eleita para à Academia de Medicina. Seus contatos no meio médico lhe permitiram prosseguir com suas metas (originadas ainda com Pierre) de se produzir protocolos de segurança para trabalhadores, bem como o aperfeiçoamento daquilo que se viria chamar “curieterapia” ou “radioterapia”, isto é, a irradiação de tumores cancerígenos ou pré-cancerígenos pelo rádio. Marie se manteve à frente do Instituto do Rádio até sua morte.

Morte e legado

(BADASH, 1965; DAVIS, 1995; MARTINS, 1997)

Apesar de Marie Curie ter sido uma mulher aparentemente saudável (andava de bicicleta, nadava no mar, escalava montanhas e se preocupava em respirar ar puro sempre que saia do laboratório), ainda assim, não resistiu a constante exposição a radioatividade.

Ao mesmo tempo que foi para ela sua vida, foi justo o seu objeto de estudo que ocasionou sua morte. Marie Sklodowska Curie faleceu de leucemia ocasionada pela excessiva exposição a radioatividade em 4 de julho de 1934, aos 67 anos, na província de Salanches, França.

Todavia, seu legado para toda a ciência contemporânea e desenvolvimento da sociedade são imensuráveis. Qualquer pessoa que trabalhe direto ou indiretamente com radiologia deve ter uma enorme atitude de gratidão pela cientista Marie Curie, não só por ter descoberto os elementos químicos: polônio e rádio, mas também pelo trabalho dela nos campos de batalha na Europa durante a primeira guerra mundial desenvolvendo aparelhos portáteis de raios-x, que fez com que fosse possível desenvolver a maioria das técnicas radiológicas utilizadas atualmente.

Além disso, a grande maioria das aplicações das radiações na medicina atual, começando pelos raios-x, passando pela radioterapia no tratamento do câncer e pela medicina nuclear, estão intimamente relacionados aos estudos desenvolvidos pelos Curie.


Conclusões

A partir das informações coletadas, concluiu-se que Marie Curie foi um grande símbolo da força feminina no desenvolvimento da humanidade, pois além de toda a sua obra, em muitos momentos abriu mão de acomodar-se e preferiu continuar incessantemente seus estudos em busca de prestar sempre sua contribuição à sociedade.

Quando se analisa o desenvolvimento a obra de Marie Curie, desde seus cadernos de laboratório até toda a importância de sua obra, levando em conta também o contexto da época, verifica-se que seu trabalho experimental não foi guiado apenas por uma mera busca empírica de novos elementos radioativos, mas sim por uma série de hipóteses derivadas de estudos preliminares, principalmente de Becherel.

E mesmo que por muito tempo tenha desenvolvido estudos na companhia de Pierre, construiu uma grande carreira sólida na ciência, ganhando o respeito e admiração de todos pela sua inteligência, autonomia e trabalhos espetaculares em diversos ramos da ciência, inclusive criando métodos didáticos inovadores à época e quebrando barreiras culturais no meio universitário.


Referências

BADASH, Lawrence. Radioactivity before the Curies. American Journal of Physics, v. 33, p. 128-135, 1965

CURIE, P.; CURIE, M.S. Sur une substance nouvelle radioactive, contenue dans la pechblende. Comptes Rendus de l’Académie des Sciences de Paris, v. 127, p. 175-178, 1898.

CURIE, M.S. Les rayons de Becquerel et le polonium. Revue Générale des Sciences, v. 10, p. 41-50, 1899.

CURIE, M.S. Recherches sur les substances radioactives. Paris: Gauthier-Villars, 1903.

DAVIS, J.L. The research school of Marie Curie in the Paris Faculty, 1907-14. Annals of Science, v. 52, p. 321-55, 1995.

JAUNCEY, G.E.M. The early years of radioactivity. American Journal of Physics, v. 14, p. 226-241, 1946.

MARTINS, R.A. Como Becquerel não descobriu a radioatividade. Caderno Catarinense de Ensino de Física, v. 7, p. 27-45, 1990.

MARTINS, R.A. Investigando o invisível: as pesquisas sobre raios X logo após a sua descoberta por Röntgen. Revista da Sociedade Brasileira de História da Ciência, n. 17, p. 81-102, 1997.

PINTO, C.R.J. Feminismo, história e poder. Revista de Sociologia e Política, v. 18, n. 36, p. 15-23, jun. 2010.

WEILL, A.R. Marie Curie. In: César Benjamin (ed.). Dicionário de Biografias Científicas. 3 vols. v. I, Rio de Janeiro: Contraponto Editora Ltda, p. 551–557, 2007.

WYART, J. Pierre Curie. In: César Benjamin (ed.). Dicionário de Biografias Científicas. 3 vols. v. I, Rio de Janeiro: Contraponto Editora Ltda, p. 557–563, 2007.


Autor: Giovanni Paolo Ruffini (Cidadão ítalo-brasileiro, Professor de História, Filosofia e Sociologia)

 
 
 

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